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sexta-feira, 11 de maio de 2018

Revolução colorida no Cáucaso coloca a Rússia num dilema

– A subida ao poder de Nikol Pashinyan na Arménia pode ser decisiva no Cáucaso e alterar o equilíbrio de poder numa região outrora dominada por Moscovo


por M.K. Bhadrakumar

Arménia, um país 'ilhado'.
Após um intervalo de três anos desde a mudança de regime na Ucrânia, em Fevereiro de 2015, outra revolução colorida está a desdobrar-se em mais uma antiga república soviética no Cáucaso – a Arménia. 
Um levantamento popular exigindo mudanças democráticas e oportunidades económicas está a crescer na Arménia. 

Nikol Pashinyan.

Os media do ocidente ensaiaram chamá-la de "Revolução de Veludo". Todas as características clássicas de uma revolução colorida são já visíveis neste levantamento político. Um homem de meia-idade chamado Nikol Pashinyan surgiu de lugar nenhum para liderar a campanha em favor da mudança de regime. Ele prometeu proteger direitos humanos, assim como combater com severidade a corrupção desenfreada e o compadrio. 

Os media ocidentais entusiasticamente começaram a transformar Pashinyan numa figura de culto. Ele começou a deixar crescer uma barba grisalha três semanas atrás. Envergando uma T-shirt camuflada e calças cargo, sua face fotogénica sob um boné estilo militar instantaneamente provoca uma comparação com Che Guevara nos cartazes em Yerevan. 

A juventude loucamente empolgada – com uma razoável percentagem de mulheres jovens chiques da classe média – adora o seu olhar másculo e está a aderir a acções de sit-in na praça principal da cidade em Yerevan com um fundo de música rock e uma actuação ao vivo do principal cantor da banda de metais System of a Down, dos EUA. Os protestos já assumem a aparência de um carnaval. As autoridades não sabem como lidar com os jovens revolucionários. 

Há apenas uma semana, Pashinyan não conseguiu ser eleito primeiro-ministro e o parlamento arménio, que elege o chefe de governo, fez outra votação na terça-feira. Desta vez Pashinyan venceu. 

Pashinyan está agora pronto a tomar o comando da Arménia, substituindo o governo de uma década de Serzh Sargsyan, apoiado por Moscovo. Curiosamente, ele teve êxito em persuadir o partido de Sargsyan, o qual dispõe de maioria no parlamento, a mudar de lado e apoiá-lo. 

Comparado com Gandhi e Mandela 

Milhares dos seus apoiantes estão eufóricos na Praça da República em Yerevan. A revolução colorida está à beira da vitória e venceu sem violência. Pashinyan está a ser comparado a Gandhi e Nelson Mandela. 

A Arménia, um país remoto sem litoral de 2,9 milhões de pessoas no Sul do Cáucaso, surgiu da noite para o dia como um estado na linha de frente na política das grandes potências. Sua importância inusitada de hoje deve-se em grande parte ao facto de o país ser membro da Organização do Tratado de Segurança Colectiva e da União Económica Euroasiática, lideradas por Moscovo – e, naturalmente, como o local de uma base militar russa. 

O Cáucaso é o ponto fraco da Rússia e uma revolução colorida na Arménia resultando no estabelecimento de um regime não amistoso afectará a segurança das regiões do Cáucaso Norte da Rússia. Uma revolução colorida provocou a mudança de regime na Geórgia a seguir a uma disputada eleição em 2003 e as relações georgiano-russas nunca se recuperaram completamente. 

Contudo, Moscovo tomou uma posição neutral na actual tempestade política e Pashinyan tem emitido declarações a dizer que pretende dar prioridade às ligações da Arménia com a Rússia, particularmente a cooperação militar. O presidente russo Vladimir Putin não perdeu tempo em congratular Pashinyan tão logo a votação parlamentar endossou-o como o próximo governante da Arménia. Putin disse procurar "relações amistosas" com o novo governo. 

Mas as equações são delicadamente equilibradas. A grande questão é o que acontece quando Pashinyan apela a uma votação rápida e tiver êxito em obter um mandato popular por si próprio, conquistando uma base de poder sólida. Claramente, ele desfruta do apoio ocidental. Moscovo não pode arriscar-se a outra confrontação com o ocidente na Eurásia. Putin preferirá evitá-lo. 

Por outro lado, a estratégia dos EUA é cercar a Rússia na massa de terra euro-asiática com um arco que vai desde os países Bálticos até a Europa Central, a qual está agora pronta para abarcar a altamente estratégica região do Cáucaso. Mais a leste jaz a Ásia Central, onde os EUA já estão entrincheirados no Afeganistão. 

Mas isso não é toda a história. Há uma razão adicional para ser expectável que os EUA façam um esforço determinado para consolidar sua influência sobre a Arménia. A questão é que a Arménia também faz fronteira com a Turquia e o Irão e o fim de jogo no conflito da Síria está a aproximar-se. 

A Arménia teve uma história perturbada com a Turquia Otomana e dificilmente se dá bem com Ancara. A matança em grande escala de arménios étnicos em 1915 permanece uma enorme controvérsia na política externa turca. O presidente Donald Trump emitiu uma declaração recentemente no aniversário do massacre arménio, o que aborreceu a Turquia. A comunidade arménia nos EUA exerce um bocado de influência na política americana. 

Basta dizer que se os EUA conseguirem entrincheirar-se na Arménia isto colocará dores de cabeça tanto à Turquia como ao Irão, os quais estão actualmente na mira de Washington. Os EUA já desfrutam de laços fortes com os curdos habitantes da região. 

Igualmente, em algum momento, o projecto de mudança de regime na Arménia está destinado a extravasar para o vizinho Azerbaijão, o qual também está sob domínio autoritário. Já há um nível elevado de atenção ocidental quanto à geopolítica do Azerbaijão. Naturalmente, o Azerbaijão seria um grande prémio para os EUA no grande jogo do Cáucaso. É rico em petróleo e, de modo interessante, há uma minoria étnica azeri a viver dentro do Irão. 

Acumulam-se nuvens tempestuosas 

Acima de tudo, se o Azerbaijão for arrastado para a órbita dos EUA, o Tio Sam pode molhar os seus pés no Mar Cáspio, o qual até agora tem sido de facto um lago russo-iraniano. Na verdade, tempos fatídicos estão pela frente na geopolítica do Cáucaso, a qual tem sido uma região ardentemente contestada ao longo de toda a história quando impérios em torno competiam pelo seu controle – persa, turco e russo. 

No pano de fundo dos conflitos no Iraque e na Síria, as tempestades que se acumulam nas relações dos EUA com a Turquia e o irão e nas actuais condições da Nova Guerra Fria, a convergência russo-turca-iraniana na preservação do actual estatuto da Arménia de "neutralidade positiva" não deveria ser subestimado. 

Por outro lado, é improvável que Washington deixe a Arménia escorregar através dos seus dedos, depois de ter investido tanto na agenda da mudança de regime e impulsionado até à vitoria a cuidadosamente coreografada "Revolução de Veludo". 



O original encontra-se em www.atimes.com/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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