O que é "Antifa"? Dez anos de repórter entre eles e os policiais - Noticia Final

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terça-feira, 29 de agosto de 2017

O que é "Antifa"? Dez anos de repórter entre eles e os policiais

Ramin Mazaheri,* The Vineyard of the Saker

Traduzido pelo coletivo da vila vudu

"A questão contudo, além de qualquer dúvida ou discussão de números, é que o maior número de fascistas estão na força policial. Por exemplo,mais da metade do total de policiais franceses votaram esse ano em candidatos da extrema direita. E o mesmo aconteceu também em 2015, para que ninguém pense que lá houvesse anti-Macronistas ilustrados."

Tem sido engraçado ouvir jornalistas norte-americanos que pronunciam erradamente a palavra "Antifa"[1]: "É 'An-tííí-fa, não é?"[2] 

Bom, em vários sentidos é sorte deles, porque os "Anti-Fascistas" são tão queridos da mídia quanto dos fascistas e também da Polícia. Sei do que falo, porque desde 2010 trabalho como repórter dentro das trincheiras das manifestações na França, com Antifas de um lado, polícia antitumulto do outro, e a mídia-empresa dos EUA no meio.
Não me surpreende que os norte-americanos não conheçam a Antifa – houve tão poucos protestos nos EUA desde 1975 até hoje! (Aí já se tem um grande e previsto efeito lateral da derrota de Hillary.)

Na França, são 10 manifestações por dia, e Antifa está quase sempre presente nas da esquerda. Antifa é menos conhecida, porque seus graffiti não apenas são letras ruins empilhadas, mas também porque clama por revolução e faz lembrar todas as causas mais esquerdistas. (Para um país com a história de sucessos na pintura dos quais a França muito pode se orgulhar, ograffiti francês é, com certeza, um desastre...).

Por causa dos tumultos em Charlottesville, o "tempero do mês" na mídia-empresa dominante furiosamente anti-Trump [no mundo] é Antifa. Ocorreu-me que deveria partilhar minhas experiências focinho a focinho com eles, e gostaria que me pagassem meus dois vinténs antes que a mídia-empresa dominante comece, como inevitavelmente começará, a azedar para o lado desses esquerdistas sinceros.

O fato mais crucial jamais noticiado é o seguinte: Antifa praticamente nunca promove destruição sem sentido. Ah, sim, eles quebram coisas e esmagam coisas e rasgam coisas, mas ainda tenho os cacos na sola dos meus sapatos e são cacos sempre dos mesmos poucos alvos: bancos, agências imobiliárias, empresas de publicidade – todos símbolos de riqueza mal havida e capitalismo reacionário. Essa mensagem, por menos que os grandes jornais e TVs a façam circular, é 100% clara nas manifestações dos Antifas.

Antifa é, sem dúvida, organização ideologicamente sólida em muitos, muitos sentidos. São politicamente inteligentes, são modernos e são motivados.

Nesses tempos de esquerdas-fake, Antifa é dos poucos grupos que aparece consistentemente em defesa das melhores causas na França. É evidência de que Antifa está do lado certo das questões chaves e querendo envolver-se. Antifa não é a "menina boazinha da sala de aula". – Os Antifas não dão nenhuma importância à longa folha corrida que vão acumulando, e até desejam levar trancos dos policiais e ser presos por causas da esquerda.

Contudo, parte significativa dos Antifas são também adolescentes com hormônios em fúria, a sempre admirável demanda que nos fazem os jovens para que nos comportemos adequadamente, e aquela ânsia de violência.

E há questões pessoais também. Posso jurar que uma vez ouvi um Antifa na França jogar alguma coisa contra um policial antitumultos e gritar: "E agora? Será que meu pai acha que ISSO basta, em matéria de eu ser alguma coisa na vida?!" 

É talvez seja imaginação minha. Talvez meu francês não seja tão bom.

Mas Antifa tem tolerância zero contra a injustiça de direita: estariam perfeitamente inseridos em locais de inspiração comunista como Cuba, Irã e China. Quanto aos EUA... lembro de um vídeo de manifestação recente em Chicago, que parou e foi logo dispersada por dois policiais em bicicletas. Cena triste de ver... Verdadeiros Antifas nunca retrocederiam diante de policiais de calças curtas, isso, com certeza.

Antifa tem ideias excelentes e honradas no geral, mas tem também algumas péssimas, que chamo, generalizando, de "fascistas de esquerda" e sei que há quem discorde do termo. Mas sei exatamente o que Trump tinha em mente quando falou de "violência dos dois lados", porque vi acontecer precisamente assim muitas e muitas vezes.

Como qualquer força ou ferramenta, trata-se sobretudo de como Antifa pode ser mais bem aplicada para promover mudanças pelo lado esquerdo.

Ei, Antifas – há lugar (qualquer lugar) para a mídia-empresa na visão societal de vocês? 

Porque para os Antifa, não existe coisa de mídia-empresa "boa". Eu e todos nós somos cães/prostitutos e prostitutas/vendido(a)s/falso(a)s, etc.

Já perdi a conta das vezes que gritei "Apoio vocês! "E sou a única 'mídia' que algum dia cobriu manifestações de vocês, santo Deus!" 

É um problemão, porque, afinal, eu sou 'mídia', ok, mas iraniana: e a grande maioria dos Antifas são ateus de linha duríssima. E considerem que sou habituado a lidar com ateístas de linha FRANCESA duríssima. Charlie Hebdo, por exemplo. Toda essa gente compreende, da Revolução Iraniana o que compreendem de física de partículas. Usar barba – como eu, ultimamente – basta para erguer uma muralha de separação, mas tal islamofobia está mais frequentemente confinada à geração mais velha. 

A geração mais jovem é muito mais tolerante com muçulmanos, felizmente. Mas aqueles Antifas mais velhos são visivelmente esquerdistas fake, nada além de apaixonados eurocentristas de coração... e não poucos dão a impressão de que só entram na manifestação depois de bêbados.

Mas acho que não recebem calorosamente nenhuma mídia e nenhum jornalista – exceto talvez os que cuidem do blog Antifa.

Esse é o primeiro problema que gostaria de acertar com o Antifa. Claro que não é a questão principal, mais sou o dono dos teclados e, como jornalista de TV, sou alvo exposto graças à atenção que a câmera e as luzes atraem naturalmente.

Parte do problema é que todos – não só Antifa – pensam que repórteres de TV são idiotas: entendi isso logo na primeira semana de aulas da escola de jornalismo.

Mas minha formação é, mesmo, de redação de jornais, e só comecei a trabalhar da TV quando já chegava aos 32 anos. (Ahh, que bons tempos: longe do palco, na retaguarda, sem ter de fazer a barba todos os dias para ir trabalhar, sem jamais me sentir como um macaco que dança frente às luzes. E ninguém fica nervoso, na entrevista, falando com o gravador.)

Os cameramen, sim, são obrigados a ser muito idiotas: para conseguir a tomada crucial, eles têm de abrir caminho até a linha de frente. Embora alguns não passem de dependentes químicos da adrenalina política, muitos são só teimosos e cabeça-dura. Então, quando algum Antifa vai para cima do meu cameraman e pergunta para qual 'mídia' ele trabalha, meu amigo baixa a câmera e encara o Antifa linha-dura nos olhos e responde "Trabalho no rádio". Isso, quando está em dia bom.

E quase sempre tenho de apartar os dois. [Risos.] Não sou Madre Teresa para aguentar todas as provocações desses Antifas, como me explica o meu cameraman.

Ficar sempre de olho nos Antifas é parte do meu trabalho, porque também trabalho como guarda-costas do cameraman, profissão arriscada porque, quando está filmando ele não pode vigiar a própria retaguarda. Mas a verdade, mais precisamente, é que nós dois fazemos a segurança da câmera de $10-$20 mil, para que ele não perca o emprego.

Por tudo isso, entre um cameraman que se perfila na defesa de uma imprensa livre, com minha credencial iraniana e o diploma de jornalista burguês... digamos que a relação que tenho com Antifa é estritamente profissional. Sinceramente, muitos aqui na França temos uma história a contar de quanto a extrema esquerda francesa trata estupidamente mal os Antifas, mas esse já seria outro assunto.

Resumo da ópera: qualquer jornalista de TV dirá a vocês que o pessoal de Antifa é ameaça maior para a profissão, que os policiais, porque em geral basta a câmera para pôr qualquer policial na linha – eles não podem espancar a imprensa, sem sofrer consequências. Ok, claro que Antifa não lança choques, jatos d'água ou balas de borracha ou outras, etc.

E com os policiais há outra tática ótima: é só falar inglês. Policial sabe que pode espancar manifestante local, mas... estrangeiros? É problema grave. Fale qualquer idioma estrangeiro para o policial que tente espancar você, e ele imediatamente encontrará outra pessoa para espancar.

Quem atrasa a sociedade são os fascistas, não os Antifa

No que tenha a ver com os EUA, muito me admira a eficácia de combater agressivamente umas poucas centenas de ignorantes em Charlottesville, que rapidamente rastejaram de volta para a toca: o problema lá é o Nacionalismo Branco rampante institucional.

Claro que uma enorme diferença é que a extrema direita em Charlottesville portava armas semiautomáticas. Ok, é problema nada corriqueiro, mas pergunto-me se Lênin teria esperado que alguém se expusesse à morte, naquele dia e naquela luta específica?

A questão contudo, além de qualquer dúvida ou discussão de números, é que o maior número de fascistas estão na força policial. Por exemplo, mais da metade do total de policiais franceses votaram esse ano em candidatos da extrema direita. E o mesmo aconteceu também em 2015, para que ninguém pense que lá houvesse anti-Macronistas ilustrados.

É assustador que a revelação desse desequilíbrio pró-extremistas não tenha levado a qualquer grande reforma na força policial, sequer 'demandas' de grandes reformas na mídia-empresa francesa dominante. Obviamente, os policiais lá estão para defender o 1%, e a mídia-empresa protege o mesmo 1%, não O Povo. Da delegacia de polícia em Kiev aos EUA, a situação é a mesma em todos os lugares onde não há socialismo.

E O Povo sabe disso em todos os lugares. Quando estava cobrindo a Revolução Egípcia em 2011 na Praça Tahrir, fui perigosamente ameaçado pela política vestida de preto e por sorte fui salvo por soldados do Exército – e essa foi precisamente a mesma experiência que o povo egípcio relatava sempre e sempre. (E o Exército Egípcio salvou os egípcios e absolutamente não atacou O Povo... por algum tempo.) Exceto talvez o exército norte-americano, o exército é sempre visto como real defensor do Povo, ao mesmo tempo em que não há quem não saiba que a Polícia são tiranos perigosos, que se devem evitar a qualquer preço. O Exército defende o país – a Polícia o ofende e agride.

As únicas exceções a essa regra que conheço pessoalmente são Cuba e Irã, onde um corpo explicitamente denominado "Guardas Revolucionários" tem grande papel no policiamento (não falo chinês, portanto não garanto nada sobre a China). Esses grupos têm o respeito, a dignidade e o orgulho dos que são reconhecidos pelo Povo como protetores de uma revolução moderna: é impossível compará-los com policiais que, com apenas seis meses de treinamento/doutrinação de extrema direita, são os bandidos de Laranja Mecânica do outro lado.

Os policiais antitumulto franceses são jogadores fracassados de rugby que lá estão para poder vestir aqueles capacetes estranhíssimos. Jogar os jogos deles é desperdício de energia... mas muitos dos Antifas amam aqueles joguinhos. Mas a força policial francesa, como qualquer outra polícia, não pode ser politicamente neutralizada com propaganda/publicidade em massa... assim como nós todos adoraríamos destruir a machadadas essa "tentativa de estupro mental" que é a publicidade.

Nos EUA... bem, é assustador ver o modo como os veículos da mídia-empresa bajulam e endeusam qualquer mero comentário da polícia, como se fossem alguma coisa de revolucionário.

Antifa é politicamente e moralmente correta, mas isso não faz deles líderes 

Problema é que Antifa frequentemente se vê como lideranças. Abrem caminho para a primeira linha da manifestação e avançam. Ou mantêm-se nas laterais garantindo segurança com toda a desnecessária arrogância e as táticas intimidatórias de que se servem as forças mercenárias de segurança que servem políticos ou astros franceses.

Se Antifa está liderando o protesto que você convocou, você tem um problema.

Não há quem não saiba que a linha de frente de qualquer passeata – a linha dos que ficam cara a cara com os policiais – tem de ser de mulheres e idosos, preferencialmente com carrinhos de bebê. É o que funciona, como se provou na Revolução Francesa e na Revolução Russa. A razão é óbvia: nenhum policial pensará duas vezes antes de espancar um homem que o desafie, mas esses outros espécimes da humanidade obrigam qualquer brutamontes a parar e pensar. Por favor, senhoras e idosos, pensem com seriedade sobre isso.

Nunca li Sun Tzu, mas me parece que o lugar de perfeito feng shui onde pôr os Antifa é no centro do protesto, para que garantam o fogo nas tripas da manifestação, e ao mesmo tempo para protegê-los de situações em que eles sempre se metem e só fazem dar à polícia pretexto para a violência.

Verdade é que o pior lugar para pôr os Antifa é a linha de frente: eles provocam a polícia antitumulto, enlouquecem aqueles desequilibrados, e depois do jato inicial de adrenalina, os Antifa realmente só fazem drenar a energia da multidão. A razão disso é simples: de cada 20 protestos dos Antifa e outros manifestantes linha-dura, os manifestantes só tentam atravessar a linha policial uma vez. Muita conversa do tipo "eles vão ou não vão?", chega a entediar tanto os jornalistas como os próprios manifestantes; como liderança, nada pode ser pior que isso. (É realmente importante que os Antifa sejam substituídos por senhoras e idosos.) Trata-se também de comportamento muito 'válvula de escape', num nível societal... o que facilmente se traduz em termos teóricos como "energia política desperdiçada".

Há momentos de radicalização em que é necessário pôr os Antifa na linha de frente, e várias vezes eles realmente avançaram sobre as linhas de dominação antidemocrática, arbitrária e de provocação. Quando acontece é emocionante e necessário.

Recordo o primeiro protesto depois de declarado o estado de emergência em Paris pela primeira vez em 2015. Apenas nove dias depois do massacre na Boate Bataclan, mas nem Antifa, nem a extrema esquerda nem eu jamais aceitaríamos a lógica do Estado segundo a qual, para combater o terrorismo, seria indispensável banir todas as reuniões de rua, sobretudo num contexto de feroz guerra pró-'austeridade' que o Estado guerreava contra os 99%. E assim um comício de apoio aos refugiados recusou-se a se deixar cancelar – ninguém restringiria o direito de plena liberdade de reunião. Àquela manifestação só compareceram os realmente comprometidos, porque ninguém sabia a que ponto iria a repressão policial. Praticamente ninguém das grandes redes comerciais, que acompanhavam a linha de propaganda do Estado.

Leiam aqui a matéria que escrevi, e cuidei de anotar em detalhe as táticas de rua necessárias para derrotar uma linha de policiais.

Aquela manifestação teve realmente gosto de vitória, e foi uma vitória: O Povo provou que não se deixaria acovardar pela mais perigosa de todas as forças de repressão – o governo, dentro de casa –, não algum terrorismo estrangeiro. Todos os créditos cabem aos Antifa (veem-se as bandeiras deles no vídeo) e aos outros esquerdistas reais, que derrotaram aqueles policiais sem vontade, sem projeto, que ali só defendiam uma linha de gol imaginária, não algum valor moral político moderno.

Mas essa foi ocasião especial. Posso pensar em muitas, muitas outras ocasiões nas quais Antifa não avançou contra a linha de policiais.

O pior dos Antifa: poder fazer a esquerda parecer má e a direita, justificável 

O maior problema é que Antifa dá ao governo e à extrema direita cobertura para aprofundarem a repressão e consumarem ataques sob falsa bandeira. Não escrevo "falsa bandeira" à toa. Sou jornalista profissional e o que escrevo, provo.

Sou obrigado a lembrá-los de um ataque infame contra o Hospital Infantil Necker em Paris, ano passado.

Aconteceu no auge dos protestos contra o desmonte das leis do trabalho (e mês que vem já haverá outro!). Era manifestação convocada pelos sindicatos e, como então era frequente, houve dúzias de feridos e presos. Usaram-se canhões de água, manifestantes pró-democracia foram presos, houve violência nas ruas, etc.

Então, dois vândalos mascarados andaram até o principal hospital infantil e quebraram 15 grandes portas de vidro.

Claro que o ataque ao Hospital Necker provocou indignação em todo o país. É ação absolutamente indefensável. (Mas... por que não havia sequer um policial para proteger um grande hospital, tão próximo do local de uma manifestação agendada e autorizada? E como é possível que os vândalos tenham tido tempo para quebrar, não uma, mas 15 grandes portas de vidro? Perguntas sem resposta até hoje.)

O primeiro-ministro imediatamente se pôs a deslegitimar as manifestações, autorizou uso de mais violência e proibiu quaisquer outras manifestações. E quem defenderia – na mídia, no governo, até nos bares e cafés – manifestantes que atacaram um hospital infantil?

O incidente não poderia ter feito retroceder mais a luta contra a 'austeridade'... e eis porque ninguém na esquerda jamais faria tal coisa! Até o dia de minha morte continuarei convencido de que foi obra dos policiais, ou de bandidos pagos pelo governo, para atacar o hospital.

É impossível que alguém da esquerda ou dos Antifa tivesse jamais feito tal coisa.

E o momento? Esse detalhe está hoje já completamente esquecido: só depois do ataque – e com os manifestantes já completamente desmoralizados e deslegitimados – foi que o governo FINALMENTE concordou com receber a direção do principal sindicato, APESAR dos três meses de protestos ininterruptos. Pois é. E reuniram-se por apenas 90 minutos – reunião-espetáculo, exclusivamente para chamar ainda mais atenção para sindicatos, grevistas e gente da esquerda.

Pista importante para confirmar minha ideia de que os autores foram policiais, estava no graffiti idiota deixado na parede do hospital: "Trabalho nunca!" 

É absoluto nonsense e pura propaganda, concebida obviamente para reforçar a imagem absurda de que a verdadeira esquerda seria "preguiçosa"... A quem, se não um policial com os miolos envenenados pela mais reles propaganda, ocorreria insistir na imagem de que a esquerda não passaria de bando de vagabundos? Que ideia poderia ser mais mal informada e enviesada-estereotipada que essa. Antifa jamais escreveria tal coisa.

Nem os anarquistas. Anarquistas querem total controle sobre o próprio trabalho, não algum 'direito' exclusivo de comer ser trabalhar.

Os anarquistas tampouco querem sociedade que 'nunca trabalhe' – mais ideias estereotipadas –, e nenhum anarquista visa ao caos total. Os anarquistas querem o máximo de poder possível devolvido pelo Estado ao indivíduo, mais ou menos como os Libertaristas nos EUA.

Não que haja muita gente suficientemente interessada em política para ler sobre anarquismo e ir além desse nível rastaquera de ignorância e incompreensão. Mas fato é que o único grupo que realmente pratica a religião do "Trabalho nunca!" são os capitalistas ricos, que querem aposentar-se aos 40 e passar o resto da vida na praia! Não há como negar. 

Repito que continuo perfeitamente convencido de que os Antifa não são responsáveis pelo ataque ao Hospital Necker e de que nada ali sugere, sequer remotamente, as táticas que os Antifa usam.

Mas fato é que sou pago para cobrir assuntos políticos, e a maioria não é. O cidadão médio tem outros interesses em outros campos e pode não ser politicamente muito lúcido.

Os Antifas têm de entender que há volta em todo e qualquer tipo de violência política. No fim, os Antifas têm de se perguntar se – por exemplo – o melhor modo de levar famílias sem teto aos 20% do total de apartamentos que há em Paris que são mantidos vazios e fechados por agências imobiliárias gananciosas?

Ou se o melhor meio para promover a compreensão seria intimidar jornalistas e expulsá-los? Eu pelo menos assino tudo que publico e não ando pela rua com a cara escondida...

Antifas como ursinhos de pelúcia – é impossível?

O que quero dizer é que os Antifas são gente da melhor esquerda, admiráveis militantes, que teriam muitos importantes serviços a prestar numa sociedade democratizada (de esquerda), na qual operariam como vanguarda muscular e ativa, contra qualquer retrocesso reacionário.

França e EUA não são sociedades desse tipo.

Na verdade, França e EUA são tão doentiamente militaristas, adoradores de armas, cultuadores de forças policiais, sociedades imperialistas, dentro das quais a esquerda tem de se mover com cautela, ao definir que partes dessas sociedades escolherão provocar. Provocar o complexo industrial-militar? Pode ser ótima ideia. Protestar contra o culto religioso do policial e da violência? Excelente ideia, também. Outra grande ideia? Unir-se ao Movimento Boicotar, Desinvestir, Sancionar, BDS, contra Israel (movimento o qual, em todo o mundo, só foi declarado ilegal na França, justamente o país do 'defenderei até a morte teu direito de discordar'). 

Mas porem-se a provocar aquela gente decaída, patética, que não faz jus sequer ao meu rótulo favorito de "Lixo Branco" [ing.White Trash"]? Laranja madura na beira da estrada tá bichada ou tem marimbondo no pé, não é mesmo?

Teoricamente, Antifas… Não estou criticando vocês. Muitos de vocês sabem o que estão fazendo e, por mim, já está ótimo.

Psicologicamente, o problema, como brinquei acima, é que a agressão que vocês promovem está muito mal dirigida. Vocês fazem como se TODOS E TODAS E TODO MUNDO fossem o inimigo. O maior problema dos Antifas é essa mania de se porem como vítimas. Todo mundo percebe que vocês sofrem porque ninguém ama vocês.

Mas, sim, nós os amamos, Antifas!

Mas vocês têm de parar de agir como se preferissem a cadeia, a deixar ver que vocês também nos amam!

Se não conseguirem, incorrerão na culpa de atropelar os principais valores da esquerda em todo o mundo, porque o amor – solidariedade, harmonia comunitária, igualdade – é a força que motiva todas as esquerdas efetivas, em todo o mundo.

Amemos os Antifa, porque eles merecem. Eu pessoalmente, já amo. 

Coragem, Antifas! Boa sorte nos EUA!*****



* Ramin Mazaheri é correspondente-chefe em Paris da rede Press TV iraniana e vive na França desde 2009. Foi repórter nos EUA e trabalhou no Irã, Cuba, Egito, Tunísia, Coreia do Sul e em outros países.
[1] L’Action antifasciste (Fr.), Antifaschistische Aktion (Al.), Antifascistische Aktie (Hol.) – sigla: Antifa (em alemão, holandês e inglês, ou AFA (na Escandinávia) — é uma rede informal de "coletivos" autônomos antifascistas, cujo objetivo é, dentre outros, trocar informação e coordenar as atividades entre grupo locais em cada país para "quebrar o fascismo em todas as suas formas". Há coletivos Antifa, dentre outro países, na Alemanha, França, Países Baixos, Suécia, Dinamarca, Noruega, Austrália e Canadá. Agora começam a ser vistos nos EUA.
[2] Em inglês, a sigla Antifa pode ter duas diferentes pronúncias: /'æn·tiˈfa'/ e /'æn·tɑɪ-fa'/. Na França, pronuncia-se sempre /'æn·tiˈfa'/. Parece que os norte-americanos estão ainda sem saber como chamar a 'novidade' [NTs].

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