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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Vai uma dose de petróleo russo- saudita?


Traduzido por Vila Vudu

“Sabe quando as empresas russas reduzirão a produção de petróleo? Quando o petróleo custar $0″. Cortesia do vice-ministro de Energia da Rússia, Kirill Molodtsov, aí está com certeza uma das melhores frases de 2015.Bem, esqueçam a coisa de petróleo a $0, mesmo que a OPEP recuse-se a diminuir a produção para reduzir a superoferta mundial.Quanto à Rússia, podem contar com que continue a extrair como se não houvesse amanhã.

O caso é o seguinte: a Rússia manterá a produção de petróleo em 2016 em espantosas 533 milhões de toneladas – que se traduzirão numa média de 4,76 milhões de barris/dia em exportações.Beneficiando-se de um conjunto de refinarias mais eficientes, a demanda interna cai e as exportações sobem. Empresas russas de petróleo, comparadas às majorsocidentais, sofrem menos com os baixos preços do petróleo, por causa da desvalorização do rublo e porque os impostos diminuem, se o preço do petróleo cai. Igor Sechin, presidente da Rosneft, costuma vangloriar-se de que “os custos russos são os mais baixos do mundo” – especialmente no petróleo dos campos da Sibéria Ocidental.A Rússia é o maior produtor global de petróleo do mundo, ao lado do oceano de petróleo que é a Arábia Saudita. E já em pelo menos três vezes, em 2015, a Rússia exportou mais petróleo para a China, que a Arábia Saudita. Encaixa-se perfeitamente no ângulo chave, de energia, da parceria estratégica Rússia-China na Eurásia.Cada vez mais e mais estranhamente, esse processo corre agora em trilhos paralelos, com Rússia e Arábia Saudita encaminhando-se, talvez, para se tornarem aliadas, ainda que as duas estratégias para o petróleo colidam frontalmente. O presidente russo Vladimir Putin aludiu a um programa “de multibilhões de dólares” nas esferas técnico-militares.

Pode ser sinal de que a Casa de Saud viu a luz – à parte estar sendo gravemente prejudicada pela própria estratégia de forçar os preços do petróleo para baixo. Implicaria, no longo prazo, uma Casa de Saud alinhada mais intimamente com a parceria estratégica Rússia-China – dado que a China é o principal parceiro comercial dos sauditas e, de longe, o maior consumidor de petróleo.
A motivação chave da Casa de Saud para forçar os preços do petróleo para baixo em 2014 foi dobrar a Rússia na questão síria. Agora já se tem o veredito econômico – que se resume a desastre absoluto, com a Arábia Saudita exibindo déficit de 16% do PIB e a avaliação do seu crédito soberano em 2015 rebaixado para “A+/A-1″, dos “AA-/A-1+” em que estava, pela agência Standard and Poor’s.

A Rússia, por sua vez, não parou de bombear petróleo. E, como se não bastasse, Moscou mandou sua Força Aérea, com toda a pompa, para proteger Damasco.

Significa que a Casa de Saud fracassou essencialmente no projeto de arrancar a fatia de mercado que continua a pertencer à Rússia, e que Moscou e Pequim aprofundaram sua parceria estratégica; crucial, por exemplo, é o fato de que a [empresa] Gazprom Neft – a terceira maior produtora de petróleo da Rússia –, desde janeiro vende a Pequim em moeda chinesa.

À frente está a Rota da Seda

Os preços do petróleo continuarão baixos em 2016. A OPEP continuará fraturada. Mas a Rússia conseguiu sobreviver, assim como o Irã. Quanto à Casa de Saud, o prêmio de ‘consolação’ é que a sua estratégia de preço baixo conseguiu tirar do mercado mais de um competidor.

Especialistas e insiders norte-americanos do petróleo garantem que o que realmente faz sentido é Rússia e Arábia Saudita aliadas, não inimigas. Para a OPEP e o clube do petrodólar do Golfo, reduzir em apenas 10% sua produção de petróleo, junto com a Rússia, bastaria para fazer dobrar o preço do petróleo – o qual, aliás, foi derrubado pelos próprios sauditas. Significaria cerca de $180 bilhões de lucros anuais para a Rússia e outros tantos para a Arábia Saudita.

Isso torna o acordo de petróleo entre russos e sauditas mais importante a cada dia. Atores poderosos, intimamente ligados a Riad estão tentando fazer acontecer – o que pode levar a uma avenida pavimentada literalmente com ouro.

A reaproximação entre sauditas e árabes da OPEP e a Rússia, e potencialmente com o Irã, abrirá o caminho para que o clube do petrodólar do Golfo integre-se ao maior projeto de infraestrutura global que a história moderna jamais viu: o projeto “Um Cinturão, uma Rota”, ou a integração de toda a Eurásia pelo comércio e por infraestrutura de primeira qualidade. As Novas Rotas da Seda chinesas serão progressivamente integradas com a Rússia e com os estados da União Econômica Eurasiana, UEE (ing. Eurasian Economic Union, EEU).

A escolha que se abre diante da Casa de Saud é clara: apostar na integração da Eurásia – e lucrar com ela; ou continuar a armar e ampliar gangues e gangues de doidos wahhabistas. Essa é ação que, do jeito clássico como o chicote volta sobre o lombo do chicoteador, acabará por voltar-se contra a própria matriz ideológica – com os fundamentalistas decidindo-se a tomar Meca.
Mas… que ninguém espere, de uma Casa de Saud paranoica, enlouquecida de medo, que tome decisão racional.

Pepe Escobar (1954) é jornalista, brasileiro, vive em São Paulo, Hong Kong e Paris, mas publica exclusivamente em inglês. Mantém coluna no Asia Times Online; é também analista de política de blogs e sites como:  Sputinik, Tom Dispatch, Information Clearing House, Red Voltaire e outros; é correspondente/ articulista das redes Russia Today e Al-Jazeera.

Oriente Mídia

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