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sábado, 21 de fevereiro de 2015

Kiev perdeu guerra midiática no leste da Ucrânia


Há um ano, protestos e confrontos entre manifestantes e polícia atingiam o ponto alto na capital ucraniana, levando à troca de poder. A influência da mídia russa no leste do país pavimentou as bases para a crise atual.

O conflito entre separatistas pró-Rússia e o Exército de Kiev no leste da Ucrânia já custou milhares de vidas. Mas a guerra com tanques e armas nas regiões de Donetsk e Lugansk não teve início nas estepes ucranianas, mas em outro campo de batalha. Começou como uma guerra pela mente das pessoas e pela maneira como interpretariam os acontecimentos.

Há um ano, o movimento pró-Ocidente da Praça da Independência (Maidan), em Kiev, comemorava uma vitória. Depois de meses de protestos que culminaram em conflitos com a polícia e mortes, em 21 de fevereiro de 2014 chegou-se a um acordo entre a oposição e o então presidente, Viktor Yanukovitch. Na mesma noite, o líder pró-Rússia fugiu do país.

Naquele fevereiro de 2014, a televisão russa era transmitida em toda a Ucrânia. Ela era a principal fonte de notícias para a população do leste do país, segundo sondagens.

“A mídia russa começou a relatar sobre uma divisão da Ucrânia muito antes dos eventos na Praça de Independência e no leste da Ucrânia”, afirma Diana Duzyk, diretora-executiva da ONG Telekrytyka (crítica de televisão). Segundo ela, a Ucrânia ignorou esse fato por muito tempo.

A revolução em Kiev foi vista por muitos ucranianos através das lentes da televisão russa: como um golpe orquestrado pelo Ocidente e executado pelos ucranianos ultranacionalistas.

“Houve uma influência venenosa tanto da mídia pró-Rússia na Ucrânia, como das mídias da Rússia na Ucrânia”, ressalta Andreas Umland, especialista do Instituto de Cooperação Euroatlântica, de Kiev. Essa retórica serviu de base para o apoio ao separatismo na Crimeia e na bacia de Donetsk, diz.

Volodymyr Kipen, sociólogo de Donetsk que hoje vive em Kiev, confirma a afirmação. Ele diz que a influência dos meios de comunicação russos no leste da Ucrânia estabeleceu por um longo período de tempo a base para a aceitação da atual interferência russa na região.

Muitas vezes, jornalistas russos misturaram realidade e ficção em suas coberturas dos fatos na Ucrânia. Um dos noticiários russos afirmou, por exemplo, que os novos governantes em Kiev haviam proibido o uso da língua russa, o que não era verdade.

Além do mais, a imprensa russa divulgou relatos segundo os quais ucranianos extremistas de direita eram um perigo para o leste da Ucrânia. Mas o fato é que não houve um levante dos extremistas de direita, como alertou a mídia.

Umland acusa os meios de comunicação russos de distorcerem a realidade. De fato, havia grupos de extrema-direita nos protestos na Praça da Independência, mas seu significado foi sobrevalorizado, avalia. Em eleições presidenciais e legislativas antecipadas, os nacionalistas ucranianos acabaram angariando pouquíssimos votos.


Manifestantes em Kiev protestaram contra a política pró-Rússia de Yanukovitch

Dilema de Kiev

No leste da Ucrânia, as sementes da suspeita parecem ter caído em solo fértil. Em abril de 2014, cerca de 70% da população na região de Donetsk disse ver a mudança de poder em Kiev como um golpe de Estado organizado pelo Ocidente, segundo uma pesquisa do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev. Em Lugansk, 61% compartilhavam dessa opinião. Quase um quinto dos entrevistados estava disposto a dar as boas-vindas aos soldados russos.

O novo governo ucraniano reconheceu o perigo. No final de março de 2014, um tribunal de Kiev proibiu a transmissão de quatro canais de televisão russos na Ucrânia. Mas muitos outros ficaram. Somente em setembro de 2014, seis meses após o início do conflito no leste ucraniano, o órgão regulador da mídia no país impediu a transmissão de 15 canais de TV russos.

Duzyk fala na existência de um dilema. “Tentamos ser democráticos e estamos diante de uma decisão muito difícil, entre a liberdade de expressão e de segurança da informação”, diz a especialista. Ela considera correto o desligamento dos canais russos. “Não são meios de comunicação, mas de propaganda”, afirma.

Mas, na opinião de Duzyk, Kiev reagiu tarde demais. Os separatistas pró-Rússia agiram rapidamente, desativando canais de TV ucranianos e ativando russos.

“Quando os separatistas assumiram o controle das últimas torres de televisão, ficou claro que a influência da Ucrânia sobre a informação propagada na região era quase zero”, completa Kipen. Para o sociólogo, em meados do ano passado já era visível que Kiev havia perdido a batalha pelas mentes de muitos cidadãos do leste ucraniano.

Fonte: DW.DE / Plano Brasil

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