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quarta-feira, 30 de julho de 2014

Moscou acredita que Europa perderá mais com as sanções

Russia, UE, sanções, EUA

Em Moscou reagiram de forma surpreendentemente calma à nova “terceira fase” de sanções da União Europeia contra a Rússia. As restrições no sector bancário, da energia, de exportações de armamentos e da chamada produção de “dupla utilização” (civil e militar) entrarão em vigor em 1 de agosto.

As medidas foram acordadas por embaixadores da UE em Bruxelas, após horas de debates, em 29 de julho. Para sua aprovação formal não é necessária a convocação de uma cúpula de líderes da UE. Bastará que a Comissão Europeia obtenha seu consentimento por escrito, o que é uma mera formalidade. Os EUA anunciaram suas próprias sanções adicionais.
Em círculos de negócios da Rússia acreditam que as sanções da UE e dos EUA irão incentivar o desenvolvimento da indústria e tecnologia nacionais. Este processo já começou. O presidente Putin realizou em Moscou a segunda reunião dos principais ministros sobre a substituição de importações. Segundo os cálculos do especialistas do governo, a Rússia necessita de três meses a três anos para substituir totalmente os produtos importados por domésticos em todos os setores – desde a banca (sistemas de pagamento próprios), até aos militares e à agricultura. Assim, que quem perderá com as sanções serão os próprios países que as estão impondo. Eles perderão os contactos e seus nichos serão ocupados por empresas russas, ou asiáticas ou latino-americanas.
Todas estas sanções que Washington obrigou a UE a impor não são mais que uma vingança política dos EUA em relação à Rússia, e talvez pessoalmente em relação ao seu presidente Vladimir Putin, acredita o presidente do Instituto de Estratégia Nacional, Mikhail Remizov:
“Neste caso, trata-se de uma forma de guerra econômica contra a Rússia, país que, doponto de vista dos Estados Unidos, deve ser punido através de uma evidente infração dos princípios da nova ordem mundial ditados desde Washington. No início dos anos 90, quando os Estados Unidos se tornaram a única superpotência, eles, de fato, monopolizaram a interpretação do direito internacional, monopolizaram o uso de ferramentas de força na política, monopolizaram o direito de legitimar, de certa forma, regimes políticos. E o comportamento da Rússia na situação da crise ucraniana, do ponto de vista dos Estados Unidos, desafia demasiado descaradamente esse monopólio”.
Na UE parecem entender isso muito bem. Após um exame mais detalhado, essas “sanções setoriais”, como as chamam a UE e os EUA, parecem mais uma peneira através da qual os países da UE podem, à sua discrição, deixar ou não passar exportações para a Rússia ou importações de Moscovo. Elas não afetam o comércio de petróleo, gás e outras matérias-primas. Serão apenas limitados os fornecimentos à Rússia de tecnologias para mineração a grande profundidade águas do Ártico. Moscou, a propósito, já adquiriu esse equipamento.
Todos os contratos concluídos por países da UE até 1 de agosto em todas as áreas, sem exceção, serão cumpridos. Foi a França quem mais que outros insistiu nisso visto que ela que deve fornecer à Rússia dois navios porta-helicópteros Mistral: o valor do contrato é superior a 1,2 bilhões de euros. Quaisquer licenças de exportação podem ser obtidas após consideração especial.
O verdadeiro propósito das sanções é mais educacional do que econômico, diz a especialista russa em relações internacionais Daria Mitina:
“A própria prática de sanções, apesar de serem usadas bastante ativamente tanto pelos Estados Unidos como pela União Europeia, já há muito que está ultrapassada moralmente e economicamente. O mundo é demasiado global e demasiado interligado, de modo que esses mecanismos de sanções são sempre de dois gumes. Elas afetam não só os países contra os quais são dirigidas essas sanções, mas também aqueles estados que as introduzem”.
Apesar da reação otimista de Washington ao novo pacote de sanções europeu, é evidente que ele não conseguiu que os europeus fizessem o essencial: que deixassem de importar gás russo para substituí-lo pelo seu próprio gás de xisto. As sanções não afetam essas importações de todo, diz o analista político Alexander Gusev:
“Quanto a fornecimentos de gás de xisto dos EUA, isso não é nada plausível. O preço interno do gás de xisto nos EUA já subiu para quase 700 dólares por mil metros cúbicos. Tais compras de gás causariam à Europa grandes prejuízos. Para ela é importante continuar a fazer comércio com a Rússia”.
As sanções são projetadas para um ano, serão revistas a cada três meses, ou podem ser completamente levantadas se a Rússia a passar a se comportar em relação à Ucrânia como  Bruxelas e os Estados Unidos querem. Além disso, nas regras de sanções da UE está integrado um “mecanismo de autodefesa” especial. Ele prevê a correção de certas disposições se elas forem demasiado prejudiciais às economias europeias.
Moscou admite que o mais doloroso para a Rússia pode ser o encerramento de acesso a mercados de crédito e mercados de valores mobiliários da Europa. A fim de limitar o acesso da Rússia ao mercado de capitais da UE os cidadãos dos países da comunidade serão proibidos de “comprar ou vender títulos, ações ou instrumentos financeiros similares com um prazo de maturidade superior a 90 dias emitidos por bancos estatais russos”.
Mas este problema é só em perspectiva, e somente se acreditarmos que os bancos russos vão aguardar em silêncio quando para eles forem fechados os mercados monetários da Europa. Em particular, os banqueiros russos dizem que já reorientaram suas carteiras de empréstimos para os mercados da Ásia e da América Latina. Ou seja, para China e os países do BRICS, especialmente para o Brasil e a Índia.
Em Moscou, os serviços de imprensa dos sistemas de pagamento internacionais Visa e MasterCard já anunciaram que não intencionam bloquear os cartões dos bancos VTB, o Banco de Moscou (Bank Moskvy) e do Banco Agrícola da Rússia (Rosselkhozbank), contra os quais anunciaram sanções os Estados Unidos. Eles têm medo de perder o mercado russo.
Os dirigentes da norte-americana ExxonMobil também anunciaram que não pretendem encerrar qualquer cooperação com a Rússia. A empresa possui cerca de 20 por cento da russa Rosneft.
Peritos da Comissão Europeia da UE calcularam que por causa de sanções a Europa pode perder este ano 40 bilhões de euros. Em 2015, essas perdas vão totalizar já uns 50 bilhões de euros. Ou seja, cerca de 0,5 por cento do PIB anual de toda a UE. E trata-se somente de produtos das indústrias militar e de dupla utilização exportados para a Rússia. Se considerarmos todas as restantes exportações e a resposta inevitável de Moscou, as perdas irão aumentar muitas vezes.

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