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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Iraque: Mais outro ano letal

Cairo (Prensa Latina) A violência política desatada pela ocupação militar do Iraque, dirigida pelos Estados Unidos, estourou de novo na antiga Mesopotâmia, desta vez relacionada com disputas internas no Governo.

O primeiro-ministro xiita, Nuri al Maliki, é acusado pelos integrantes sunitas de seu Gabinete de favorecer os interesses de sua comunidade, que é majoritária no país. 
Os atentados e ataques contra zonas de maioria xiita começaram cedo no ano, depois da fuga do país do vice-presidente Tariq al Hachemi, acusado de planejar e executar atentados mortais contra altos oficiais do Exército e da Polícia dessa seita.
No fim do ano, sobre Al Hachemi pendiam cinco condenações a morte, ditadas por tribunais em Bagdá.

Al Hachemi protagonizou uma rocambolesca fuga do país tão logo as forças militares estadunidenses em missão de combate saíram da nação, primeiro refugiando-se na região ao norte do Curdistão, de onde partiu para o Catar e depois para a Turquia, um país limítrofe com o norte iraquiano.

A presença do vice-presidente tensionou as relações entre Turquia e Iraque, as quais nestes momentos se encontram em seu momento mais baixo em anos, até o ponto que durante a celebração do Hajj (peregrinação) à Meca, Bagdá devolveu um ônibus de peregrinos turcos que pretendiam passar por ali.

Em paralelo, os ataques armados e os atentados à dinamite ascenderam com uma frequência e violência que recordaram os anos tétricos de 2006 e 2007, com a diferença de que naquela ocasião os alvos eram as tropas das forças militares da coalizão liderada pelos Estados Unidos.

Por trás do ressurgimento da violência política no antigo e atormentado país árabe há um fator que explica a frequência e acritude das ações: a participação de membros da Al Qaeda no que tem todos os indícios de uma ofensiva para desalojar do poder o setor representado por Al Maliki.

Outro componente da equação é o conflito sírio, no entender de analistas como Ali al Haidari, um especialista iraquiano em temas de segurança, quem considerou que o agravamento da situação se deve à intenção da Al Qaeda de criar um corredor com a vizinha Síria para abastecer os grupos que pretendem derrubar o presidente Bashar al Assad.

Por trás desta escalada de violência há razões políticas, de segurança e estratégicas, disse o especialista, a cujo critério podem ser somados os conflitos no norte do país com o Governo autonômico curdo pelo controle de zonas com grandes jazidas de petróleo.

Esse diferendo ameaçou complicar-se em novembro, quando as autoridades curdas, acusadas de vender petróleo de contrabando a tratantes turcos, mobilizaram suas forças militares, ao que Bagdá respondeu estabelecendo unidades do Exército em Kirkuk.

A crise pôde ser resolvida em meados de dezembro com a formação de sendas comissões pacificadoras que acordaram o fim das campanhas de imprensa as quais, no dizer do presidente iraquiano, Yalal Talabani, "minaram as relações entre ambas partes e aumentaram a tensão".

Mas esse acordo não teve influência com a onda de ataques e atentados: uma meta nesse caminho infernal foi o mês de julho, quando 325 pessoas morreram e 697 resultaram feridas, conforme os relatórios de fontes oficiais iraquianas.

A ofensiva tinha sido anunciada pelo Estado Islâmico do Iraque, um ramo da Al Qaeda, a qual advertiu em abril que preparava "uma ofensiva sagrada durante o (mês sagrado islâmico do) Ramadã contra objetivos cuidadosamente eleitos, em particular as forças de segurança, o Exército e os xiitas".

Era só o prólogo de meses durante os quais um reforço das medidas de segurança foi insuficiente para deter as matanças de civis, que cobraram um caráter mais cruento em setembro e abarcaram os quatro pontos cardiais do país.

Em outubro repetiram-se as matanças em distritos xiitas de Bagdá, onde em um só dia morreram mais de 100 pessoas, Kirkuk e as localidades de Saadiya, Jan Beni, Tuz Jurmatu e Dibis, além de Diyala, na província de Baquba.

A frequência e violência dos atentados estenderam-se até novembro, um mês cujo fim foi mais letal ainda que o anterior: 166 mortos, dos quais 101 eram civis e os restantes agentes da Polícia ou militares, e 664 resultaram feridos de acordo com uma contagem oficial.

No mês anterior, o saldo tinha sido de 144 vítimas fatais e 136 feridos.

A esse ritmo, e dadas as condições de disputa pelo poder e insegurança prevalecentes, 2013 ameaça com prosseguir na corrente de morte e destruição que arrasta esse país, como uma maldição herdada da operação criada pelo ex-presidente George W. Bush para aniquilar umas armas de destruição em massa que nunca existiram.

*Chefe da corresponsabilidade da Prensa Latina no Egito.

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