Chris Arsenault
A notícia não é nova: é de janeiro desse ano. Nós a usamos, só, para um exercício de demonstração, a comprovar o que já se sabe: o ‘'jornalismo'’ no Brasil não vale naaaaaaaaaada, e comprado e pago para ser lido, é puuuuuuro prejuízo para qualquer leitor-consumidor à procura de informação.
No ponto em que paramos de copiar notícias, porque era tuuuudo igual, um veículo do Grupo GAFE (Globo-Abril-Folha de S.Paulo-Estadinho – e a BBC!) copiando o que o outro publicara e todos copiando as agências internacionais de repetição de noticiário gerado nos EUA, a situação, no “jornalismo” (só rindo!) no Brasil-2012 era a seguinte:
- No jornal O Globo, a mesma notícia aparece como “Exxon receberá 908 milhões em disputa com a Venezuela”http://oglobo.globo.com/economia/exxon-recebera-us-908-milhoes-em-disputa-com-venezuela-3547088
- Na revista Exame, do Grupo Abril, aparece como “Venezuela terá de pagar 900 milhões à Exxon”http://exame.abril.com.br/negocios/empresas/industria/noticias/venezuela-tera-que-pagar-us-900-milhoes-a-exxon
- Na Folha de S.Paulo, aparece como “Exxon receberá 908 milhões em disputa com a Venezuela”http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1028569-exxon-recebera-us-908-milhoes-em-disputa-com-venezuela.shtml
- No Jornal do Brasil, aparece como “Venezuela é condenada a pagar 907 milhões de dólares à Exxon” http://www.jb.com.br/economia/noticias/2012/01/02/venezuela-e-condenada-a-pagar-907-mi-de-dolares-a-exxon-mobil/
- Na BBC-Brasil aparece como “Venezuela terá de indenizar petroleira em US$ 908 milhões após nacionalização” http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/01/120102_exxon_venezuela_indenizacao_mm.shtml
Nos dispensamos de traduzir a matéria da Al-Jazeera – que não faz nenhum jornalismo excepcionalmente excelente, mas é infinitamente melhor que o “jornalismo” do Grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadinho - e da BBC!), que é o pior do mundo – porque o que há a dizer até que quase-aparece, sim, no jornalismo desinformativo brasileiro, desde que devidamente despido das camadas e camadas de manipulação e encobrimento dos fatos.
O fato que, dessa vez, o “jornalismo” do Grupo GAFE desinforma é simples:
O governo do presidente Chávez estatizou em 2007 as instalações e a operação da petroleira norte-americana Exxon, na Venezuela. A Exxon recorreu à Câmara Internacional de Comércio [orig. International Chamber of Commerce (ICC)], que tem sede em Paris, “exigindo” mundos e fundos a título de “reparação de danos”. Em janeiro de 2012, afinal, o recurso foi julgado.
Resultado desse julgamento, a ICC decidiu que a Exxon não tem direito a praticamente nenhuma das reparações que pediu.
“Dispensam-se comentários” – disse o presidente Chávez rindo de orelha a orelha. – O tribunal internacional decidiu que a Exxon só tem direito a 10% do que pediu. Vamos indenizar apenas o investimento inicial da empresa. Não chega a 10% do que a Exxon pedira. E pagaremos com dinheiro nosso congelado no exterior e dinheiro que a Exxon nos deve. Não desembolsaremos mais de $255 milhões”.
A única notícia, afinal, verdadeira, é a única que NÃO apareceu no “jornalismo” do Grupo GAFE e, pelo menos, apareceu em Al-Jazeera:
“Hugo Chávez está feliz. A Exxon pedira indenização de mais de $12 bilhões de dólares. A Venezuela pagará, no máximo, 5% do que a Exxon demandou, em processo que, de fato, a petroleira norte-americana perdeu – como admitiram vários especialistas consultados.
Eva Golinger, advogada, resumiu:
O governo da Venezuela oferecera $1 bilhão no início do processo de nacionalização. A Exxon recusou a oferta e processou a Venezuela exigindo $10 bilhões. Agora, depois de quatro anos de processo, com a sentença final do tribunal internacional, a Exxon receberá apenas $255 milhões.
“Tradicionalmente, a Exxon sempre procura o litígio, jamais o acordo” – disse a Al-Jazeera Steve LeVine, professor de segurança energética na Georgetown University. “Todo esse caso foi tentativa de a Exxon mandar “um recado” ao mundo, a todos que tentem discordar dos planos da empresa”.
Depois de recusar-se a obedecer às novas leis venezuelanas para o petróleo, em 2007, segundo as quais as empresas estrangeiras teriam de se tornar parceiras minoritárias da estatal venezuelana PDVSA, a Exxon e a ConocoPhillips, outra empresa norte-americana, retiraram todas as suas operações da Venezuela.
Há muitos boatos de que outras empresas estrangeiras estariam cancelando os projetos de petróleo na Venezuela. Mas além da Exxon e da ConocoPhillips, todas as demais multinacionais ocidentais ficaram, provavelmente porque os custos de saírem seriam altos demais – noticia a Al-Jazeera.
“A ChevronTexaco continua lá. Empresas europeias, francesas e italianas, continuam na Venezuela; os russos, chineses, indianos e brasileiros continuam onde sempre estiveram” – disse Golinger à Al-Jazeera. “Nenhuma empresa estrangeira deveria arriscar-se a usar o próprio poder político e econômico para tentar burlar legislação dos países onde operam. Foi o que a Exxon tentou fazer. E perdeu”.
A notícia de que a Exxon perdeu, em processo judicial contra a Venezuela, é, precisamente, o fato ativamente sonegado a quem busque informação no “jornalismo” brasileiro do grupo GAFE (Globo-Abril-FSP-Estadinho - e a BBC!). Até quando?!
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