Influentes media nos EUA manifestam preocupação face à situação socio-política e militar na Colômbia. Têm muitas razões para essa súbita preocupação: divergências no interior do regime; denuncia publica de envolvimento de chefes militares com a rede narco paramilitar; agravamento da crise económica; os efeitos dos Tratados de Livre Comercio impostos pelos EUA e pela União Europeia; o avolumar do descontentamento popular e, sobretudo, uma série de derrotas infligidas pelas FARC-EP a forças do Exército e da Polícia Nacional.
Influentes media norte-americanos manifestaram nas últimas semanas inquietação com a situação político-económica e militar na Colômbia, o aliado preferencial dos EUA na América Latina, apresentado habitualmente como modelo democrático para o Hemisfério.
Para essa súbita preocupação contribuíram noticias sobre divergências agora inocultáveis entre o presidente Juan Manuel Santos e o seu antecessor Álvaro Uribe, a denuncia publica de envolvimento de generais Santoyo e César Pinzon com a rede narco paramilitar, o agravamento da crise económica, os efeitos dos Tratados de Livre Comercio impostos pelos EUA e pela União Europeia, o avolumar do descontentamento popular e, sobretudo, uma série de derrotas infligidas pelas FARC EP a forças do Exército e da Polícia Nacional.
Julho foi um mês desastroso para a oligarquia colombiana e a engrenagem de comando das forças armadas mais numerosas e bem equipadas da América Latina (quase 400 mil homens).
O discurso pronunciado a 22 de Julho por Juan Manuel Santos foi uma peça oratória que deixou transparecer a decomposição do estado oligárquico. O sucessor de Uribe já não fala agora do país paradisíaco que não tinha sido atingido pela crise mundial. As suas promessas populistas são a cada semana desmentidas pela desindustrialização, os elevados índices do desemprego e da violência urbana, o aumento da repressão.
Iniciativas de Santos, como a tímida reforma tributária, a «lei de vítimas», a prisão de alguns narcotraficantes e o esforço para normalizar as relações com a Venezuela, desagradam a Álvaro Uribe e à máfia narco paramilitar. Mas, no fundamental, o actual presidente apresenta-se como continuador da chamada politica de «segurança democrática» - o eufemismo que serve para designar a brutal militarização do país. O sistema mediático controlado pelo Poder não consegue, contudo, ocultar que as coisas estão a correr muito mal para a oligarquia. Até Facho Santos, um primo do presidente, reconheceu num artigo (in El Pais, de Cali, 17.07.20121) que no departamento do Cauca se assiste uma «ressurreição das FARC». Alarmado, teme já a atomização da nação.
Na realidade, as FARC-EP estiveram sempre activas no Cauca. Mas o Governo enfrenta agora ali uma situação inédita. As comunidades indígenas da região, numerosas, expulsaram unidades militares e destacamentos da polícia de alguns pueblos e a adesão de jovens camponeses e índios à organização revolucionária é indesmentível. Obviamente, sem base social as FARC não estariam fortemente implantadas no Departamento.
O embaraço oficial é compreensível. Os êxitos das FARC- EP no combate ao aparelho militar-policial ridicularizam o discurso triunfalista de Santos. Agora o general Miguel Perez, ex-comandante chefe no Cauca, já declara numa entrevista a um jornal de Cali que o plano estratégico para a Região é «a longo prazo». É útil esclarecer que esse plano, intitulado «Espada de Honor de la Task Force Apolo», foi financiado pelos EUA.
DAS CALÚNIAS À REALIDADE
A grande Marcha Patriótica, promovida pelo Movimento Colombiano para a Paz com o apoio de dezenas de organizações democráticas, demonstrou o repúdio do povo colombiano por um sistema de poder que, sob uma fachada institucional democrática, actua como neofascista.
Juan Manuel Santos orgulha-se do papel que desempenhou - com a cumplicidade da CIA, da Mossad e do Pentágono – na montagem da operação genocida que foi o bombardeamento do acampamento no Equador do comandante Raul Reyes. Crimes como os assassínios dos comandantes Jorge Briceño y Alfonso Cano são apresentados em Bogotá como acções «patrióticas», assim como o sequestro, em Quito, do comandante Simón Trinidad (depois extraditado para os EUA) e em Caracas do comandante Rodrigo Granda.
O desrespeito pela soberania de estados vizinhos é prática rotineira do governo de Bogotá. Sequestros e extradições sumárias têm contado por vezes com a colaboração da Policia e do poder judicial da Venezuela.
Particularmente chocante foi a prisão em Caracas do jornalista Joaquin Perez Becerra, director da Agencia Anncol, e a sua imediata entrega ao governo colombiano que o mantem ate hoje encarcerado e ameaçado de extradição para os EUA.
Uma campanha de calúnias contra o jornalista Dick Emanuelsson, actual subdirector da mesma agência, precedeu ameaças concretas a esse prestigiado intelectual sueco, acusado de solidariedade com «o terrorismo».
A prisão ilegal na Venezuela, a pedido de Juan Manuel Santos, do cantor-guerrilheiro Julian Conrado suscitou a nível internacional, como a de Perez Becerra, uma vaga de protestos, mas foi aplaudida com entusiasmo pela oligarquia colombiana.
A Marcha Patriótica não significou somente a condenação popular de um regime neofascista pelas multidões que nela participaram. Ela veio demonstrar a necessidade de novas formas de luta contra a engrenagem politica e económica que domina o país ´
As FARC-EP expressaram bem essa realidade ao defenderem a criação de uma ampla frente de resistência capaz de unificar na luta as forças que combatem o regime oligárquico, e mobilizar os trabalhadores contra o sistema em grandes acções de massas.
A lenda negra, forjada pelo imperialismo, que difunde da guerrilha a imagem de uma organização terrorista ligada ao narcotráfico, tem dificultado muito a concretização desse objectivo.
AS FARC são acusadas de radicalismo e o governo repete exaustivamente que o seu programa é maximalista e utópico.
É falso.
AS FARC-EP defendem a unidade na luta do movimento operário, camponês, de sindicatos, de indígenas, negros, desempregados, mineiros, estudantes, pequenos e médios empresários, comerciantes, intelectuais, professores, partidos e movimentos de esquerda.
O seu programa não é radical.
Que pretendem?
No seu comunicado de 22 de Julho pp. o Secretariado do Estado-Maior Central das FARC-EP sintetiza num parágrafo esse programa:
«Um governo democrático, amplo, pluralista poderá, finalmente, cortar as amarras que atam os colombianos à horrível noite da violência. Possibilitar acordos de paz, construir umas forças armadas que defendam o interesses de todos os cidadãos e não os da casta antipatriótica, materializar uma existência democrática na qual a voz das maiorias seja a que determine o caminho a seguir, encaminhar o país para um desenvolvimento económico baseado na produção e no trabalho de todos os colombianos, zelar pela saúde, a educação, o emprego e o bem-estar geral, sem favoritismos, entregar a terra a quem a queira e possa trabalhar, apoiados na sua actividade e crescimento, usar os recursos naturais para o bem comum, resgatar as nossas culturas e encontrar solução justa para os mais graves problemas sociais».
Por que recorreram as FARC-EP à luta armada, conscientes de que essa opção somente é hoje possível em condições históricas, geográficas e sociais excepcionais?
O Secretariado do seu Estado-maior responde:
«Queríamos, sonhávamos com uma mudança pela via pacífica e democrática, mas todas as portas nos foram fechadas violentamente uma e outra vez desde o governo de Guillermo Leon Valencia. Hoje podemos garantir que um diálogo distante e nas costas do país, como pretende Santos, apenas contribuiria para intensificar mais a confrontação. Permanecemos atentos ao avanço da rebeldia popular e à organização dos debaixo. Com eles estaremos em todos os cenários a que os conduza a sua acção pela paz e a mudança. Seja qual for o rumo que o destino ofereça ao esforço para democratizar a Colômbia, hoje imensamente renovado e latente, as FARC-EP estarão sempre ao lado do nosso povo. Venceremos com ele, juramos».
A linguagem expressa bem o espírito de uma guerrilha-o partido que se declara marxista-leninista, na fidelidade ao legado de heróis como Manuel Marulanda, Jacobo Arenas, Raul Reyes, Jorge Briceño e Alfonso Cano. Uma guerrilha que se bate há meio século contra a oligarquia mais reaccionária da América Latina, aliada do imperialismo.
Diário.Info
sábado, 11 de agosto de 2012
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A situação na Colômbia e o projecto das FARC-EP
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